1.10.11

A morte do passarinho

"Era só um passarinho".

Engano: era "o passarinho".

Ele voava para ali,
para cá,
para lá
e foi no aqui
que seu voo terminou.

Contra o carro, chocou-se.
Subiste, não por tuas asas.
Subiste, não por tua vontade,
ó passarinho.

Pelo retrovisor, teu corpo
é visto pelo motorista
(que frieza!).

Não. Não era só um passarinho.
Era aquele que por muito tempo
tentou levar-nos a Deus
por meio do seu canto.

Voa, voa, passarinho!

Que teu voo seja eterno
ainda que não creiam nisso!

30.9.11

Malditas Comparações

São apenas comparações,
mas o poeta se ofende,
irrita-se com os dois
os dois em que ele se transformara
(ao menos no entender alheio).

São apenas elogios,
mas o poeta se ofende,
pensa que os seus dois eus
tem o mesmo prumo.

São apenas elogios,
mas o poeta sabe
que isso trará ainda mais peso
às suas já machucadas costas.