27.12.13

Palavras

As palavras eram só palavras,
mas deram-lhes vida,
deram-lhes significado real,
conjecturaram, inferiram,
divulgaram, alardearam,
explicitaram o que nem
no implícito estava!

Malditas palavras!
Saíram do dedo
e mesmo assim se encorparam,
criaram o que não criei,
construíram o que não projetei.
Geraram esta inquietação,
levantaram um muro
afastando quem estava próximo
(de fato).

São malditas as palavras,
mas não hei de deixá-las!

02/06/2011

26.12.13

Ano Novo

Esperar mais um ano chegar
é como esperar uma vitrine de estranhezas.
Pensa-se num novo emprego
(que talvez nunca se consiga),
pensa-se numa nova namorada
(que talvez nem seja tão nova assim),
pensa-se em uma nova vida
(tão velha de antigos desejos).

Esperar mais um ano chegar
é uma forma de fugir do hoje
sem deixar que o futuro
traga de fato apenas novidades.

14.12.13

O canário

Canta canário, não para de cantar.
Com teu canto, em cada canto,
encanta quem na vida
aprendeu a amar.



10.11.13

Reféns

Vivemos o tempo dos homens sem tempo,
o tempo dos desiludidos em massa,
o tempo da procura pelo nada, 
o tempo em que querem chegar
sem ao menos terem saído!

Vivemos o tempo das células-tronco,
o tempo do progresso e do retrocesso,
o tempo da paz que é gerada pela guerra,
o tempo em que ter vale mais que ser,
pois mais vale a "cédula-tronco".

Vivemos o tempo
(ou ele nos vive?)
em que nada mais podemos fazer.

O tempo do futuro sem presente.

O tempo dos que têm sede de si mesmos!

Vivemos o tempo do tempo
(não o nosso).

13.10.13

Banalidades

Ela chega devagar,
como quem nada quer.

Ela me provoca, seduz,
ilude e foge...

Dor

Fel
fatos
final.

Lamúrios
lamentos
leniência (?).

(Re) Viver
(Re) tomar
(Re) alimentar?

18.7.13

Professor em férias

Há uma praia, às margens do Rio Tocantins.
Ali, em meio aos hedonistas,
refugio-me para descansar.

Meio estranho, meio deslocado,
ouço uma música de fraca letra
(uma tal de "Vai no cavalinho...").

Tento fugir, tento correr,
mas estou em férias. 

Tento me distrair, 
tento me divertir,
mas percebo que um professor em férias
é sempre um professor (crítico e cético).

9.7.13

Musa Fujona

Era um lugar público.
Havia pessoas em seus afazeres carnais,
hedonistas até!

Olhei meio duvidoso...
Olhei por um lado, mergulhei...
Olhei mais de perto, mergulhei...
Fui, voltei....

Não havia dúvida: vi Gabriel Nascentes
(pensei num átimo).

Aproximei-me, conversamos,
ele discorreu sobre a sua obra
e estava com uma filósofa.

Conversamos, trocamos e-mails,
fui-me dali.

Ao sair, ainda o ouvi gritando
(para a moça que estava ao seu lado):
- Não se vá, Musa Fujona!

31.5.13

Aliterações *

Breve boom,
bate-boca,
boa brisa:
sons suaves e sinceros.

Bate porta,cai café,
roda rangendo:
tortos tons tecidos.

Gordo grito,
pretos pios,
voz vincada:
sonora sina soada.

25/04/2013
* Título alterado após uma sugestão de um leitor.

A pena



A pena a planar perene...

Na suavidade de seus passivos movimentos,
ela é conduzida para cá,
para lá, para aqui,
para acolá e ali.

Sua rota sem rumo
experimenta a liberdade.

Tensão...

Gota cai ali, cai acolá,
cai ali, acolá
e aqui.

Pequenos pingos:
pena pesada.

O chão e o esquecimento
e a letargia...

30.5.13

Contemplação

tela Soltando Balão (Aírton das Neves)


É noite.

A igrejinha ao fundo pode ser a prova:
há festa de São João,
há um festejo religioso.

Crianças, ao centro,
brincam com um balão
(tão proibido hoje).

Um homem chega a cavalo,
outro homem chega a pé (com familiares -
três filhos e a esposa, talvez).

A paisagem parece serena;
a vila, aconchegante.

Sinto paz!



25.5.13

A importância da moela

Não raro, lembro-me do tempo em que ainda cursava Letras. Tempos difíceis, mas nem por isso menos saudosos...
Ainda agorinha, recordei-me dos almoços em que degustava moelas de frango. Tarefa árdua era cozinhá-las!Eu, na minha singela escassez monetária, não tinha nem uma (ou nenhuma mesmo) panela de pressão. Haja cozimento para tão dura peça da anatomia "franguiana". Aquele cheirinho de caldo de frango, que usava para imaginar o sabor de toda a citada ave, dá-me até hoje uma salivação extrema.
Aliás, não entendo porque as pessoas preferem outras partes do frango à suculenta moela.
Viva a moela que a tantos universitários alimenta!
Santa moela!

28.4.13

A linguística das sensações



As palavras exalaram um cheiro estranho:
odores fétidos a consumarem o mal.

Há pouco, o perfume criava
lindas e belas imagens.
Agora, o olfato se inquieta
com a lembrança do aroma.

As palavras, mais uma vez,
destruíram os períodos compostos:
volta-se, então, aos períodos simples,
às frases absolutas.

23.4.13

Estranhamento



Começo sozinho.
Logo, porém, alguns aparecem.

Não estou só!
Somos dois, três,
muitos, talvez.

Percebo que não estou só,
mas me desespero:
Terão mais força do que eu?
Chegarão ao destino?
Deixar-me-ão para trás?

Não estou só,
infelizmente.

Prossigo o jogo, então...

Há esperança de chegada.

29.3.13

Surpresa



As palavras aparecem,
tomam forma,
viram frases, períodos,
parágrafos até.

Há um poema,
há algumas palavras trocadas,
há o início da comunicação.

Pouco sabem um do outro,
mas iniciam a belíssima
tarefa de conviver.

Há empatia entre eles:
gostam de ler,
gostam de escrever,
gostam de conversar.

Há empatia entre eles.

São parecidos,
são co-irmãos,
são almas gêmeas.

Gêmeos nas letras,
gêmeos no agir.

Violência

"Ela estava brincando com a criança",
disse o taxista.

Brincando de matar,
de maltratar,
de enganar um ser tão pequenininho...

"Eu o asfixiei com a toalha",
friamente disse a assassina.

Mais uma criança morta,
cruelmente assassinada,
mais um futuro interrompido
pelos desvios de uma mente,
uma mente criminosa.

Uma falsa mulher
(não acredito que seja mulher
quem tira a vida de uma criança).

Em um quimono azul,
a criança sorria.

Quanta ingenuidade,
quanta pureza,
quanta paz em seu olhar.

Agora, repousarás no céu,
livre desta leviana vida
onde o ter sempre vale mais,
onde o ser quase inexiste.

Vá em paz, criança de Deus.

17.2.13

Clamor

Senhor,
sei que tu me sondas
e me olhas por dentro;
sabes tudo que quero,
alivias meus tormentos.
Sabes tudo mesmo, Senhor.

Pai, a jornada é árdua,
é cheia de tropeços;
tento erguer a cabeça,
meus erros reconheço.
Sabes que sou pequenino, Senhor.

Deus,habita em meu ser,
comanda mesmo a minha vida;
acaba com a dor, cicatriza a ferida,
guia sempre o meu caminhar.

Senhor,
escuta a minha prece,
venha ao meu auxílio;
não temos mais a morte,
pois creio que o teu filho
veio mesmo para nos salvar.

Deus, há uma alma sedenta
esperando teu socorro;
há um coração aberto
só clamando o Teu nome.
Sei que vais me ouvir, ó Senhor!

21.1.13

Viagem

As pequenas curvas dançam,
dançam entre o pára-brisa
e o painel do carro.
Há várias serras,
há uma estrada rural,
há uma morsinética quebrada.

o sol que racha,
a testa que rechaça
a chance do outra vez.

Contemplação

A nuvem
é o chão do céu.

a blusa
está suja de água.

O mosquito
nada na piscina.

O gato
é o cão do rato.

23-12-2012

"Você não me ama mais"

Simples constatação,
complexas consequências.
O afeto,
o companheirismo,
o amor (consumado)...
Entram, agora,
separação,
ira,
raiva até.
Remoem-se rancores,
aduba-se a ferida,
vomitam-se, irreversivelmente,
impropérios verbais.

09-08-2012

Palavras

Essas palavras...
Há pouco celebravam,
agora lamentam!
Há pouco construíam,
agora dizimam!

Essas palavras...
Agora, inquietam,
há pouco acalentavam!
Agora entristecem,
há pouco coloriam a vida!

Malditas palavras...
Agora há nelas a ambiguidade,
há no agora a incerteza do amanhã!

Palavras malditas: sina poética,
poéticos rumos ignorados.

22-06-2012

5.1.13

o sim!

As mensagens se aglomeram no pensamento,
as ações faltam no mundo real.
Há um corpo, parado, envelhecido.
Há uma vontade, ativa, nova.
Nessa ambivalência, o poeta prossegue,
mas já sabendo a dor que o espera.

Divagações

Pequenos pigmentos pretos,
pontinhos perto da pele:
a derme perde a densidade,
o vigor de outrora.

Há uma cor não colorida,
uma paz meio retorcida,
uma sensação de vazio
mesmo estando em meio ao povo...

Preto pigmentos pequenos,
perto da pele há pontinhos:
a densidade a derme perde,
de outrora o vigor já era!

3.1.13

Constatação

O Homem chega,
aluga o coração por alguns dias,
ilude o outro ser por alguns meses,
cria um microcosmo em alguns anos
e faz o outro ser sofrer
por toda a vida.