19.1.12

Diário de um professor II

19/01/2011 (10:11h)
Ontem, até tentei escrever, mas o ânimo não me veio. Confesso que ruminei isso o dia todo, mas preferi deixar para fazer minhas anotações hoje...
O início do ano é meio cruel para nós. Estamos preocupados com horário de aula, com o número de aulas e com o lugar onde daremos aulas! Há uma tendência ao estresse, mas isso logo passa. Superamos tudo muito naturalmente (parece que a nossa vocação de persistência está sempre conosco!).
Nesta semana, recebi algumas mensagens de celular. Aliás, adoro mensagens desse tipo! Duas delas me incomodaram. Elas eram de alunos que diziam confiar em meu trabalho e que contavam comigo para mais um ano de luta escolar. Claro que gostei da confiança em mim depositada! Porém, isso me deixa ainda mais pressionado a exercer um bom trabalho! Fácil não é, mas tentarei não decepcioná-los! Sinceramente, até gosto deste tipo de pressão. Gosto de trabalhar no limite, pois assim rendo mais e não me acomodo. Este ano, então, há um monte de "aventureiros" querendo tomar o meu lugar. Estão ávidos pela minha queda. Pena que eu não os alegrarei! "Permanecerei firme e forte até a morte".
Esta semana é crucial. Tenho que repassar meus horários para os outros lugares em que trabalho. O problema é que me falta horário. Tenho que arrumar um jeito!
Ministrar tantas aulas é duro. Muitas vezes até me esqueço do meu eu. Parece que vivo ininterruptamente como professor. Cansativo? Sim! Mesmo assim, gosto do que faço. Por isso tanto me entrego ao trabalho. Este ano, porém, quero curtir um pouco mais a minha vida pessoal. Vamos ver no que dá.
Hoje começam as aulas e tenho boas perspectivas para elas.
Até mais a todos.
Saudações de paz e bem!

17.1.12

Diário de um professor

*Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.


17/01/2011

Ontem voltamos ao trabalho. Sinceramente, não sei por que voltamos. Quando se reúnem professores, o negócio fica meio sinistro, cabuloso até (como diriam meus alunos). É uma reclamação por aula, por salário, por mais espaço no grupo... Sinceramente, não sei por que voltamos! Até parece que havia perspectivas de melhorar para nós... Esqueceram-se, os meus colegas, de que uma das máximas deste nosso país é não deixar o povo pensar? Esqueceram-se de que professores bem remunerados desempenham magnificamente bem o seu papel e, por isso, passam a questionar o sistema político instaurado até então?... Justamente por essa razão, continuamos ganhando bem menos do que a maioria dos profissionais graduados.
Mas, deixando de lado tanto lamento (visto que eu já esperava que a cena assim se daria!), um fato muito me incomodou ontem. Um amigo meu, também professor, em roda de conversa , exclamou:
- Enquanto o professor ganhar pouco, não terá respeito social. Qual é o respeito que nós temos fora do colégio? Somos tratados como "coitadinhos". Outro dia, numa fila, um aluno me disse que havia saído muito mal numa prova que fizera e que sua nota só dava para fazer para esses cursos mais fracos, algo como os cursos de licenciatura... Fiquei muito nervoso...
Bom, deixando de lado o que disse meu colega de trabalho, vamos ser realistas. O professor nunca ganhou bem no Brasil. Se ganhou, não foi numa época em que me lembro (parem de me criticar aqueles que estão lendo este diário!). Claro que não se pode ter respeito social uma classe que se autodestrói ou se automutila (o que mais vemos são professores falando mal de outros professores). O ideal seria a união (difícil no caso da classe docente). Mesmo assim, há saídas (eu espero esperançoso!).
Agora é esperar para ver quais os desdobramentos deste ano letivo que se inicia.
Enquanto isso, vou registrando aqui minhas impressões...
Saudações a todos.

16.1.12

Como escrever um bom texto?

A leitura sempre foi uma das grandes contribuidoras para aqueles que intentam a construção de um bom texto! Isso é fato. No entanto, nos últimos anos, o que se tem visto foi uma melhora na parte gramatical do texto e uma queda de qualidade nas informações que os alunos compartilham em suas redações. Como se deu isso? Como melhorar isso?
Inicialmente, é preciso que se ressalte a importância de uma boa base para a formação de futuros “redatores excepcionais”. Tendo sido bem ensinado na Educação Infantil, no Ensino Fundamental, o aluno está a meio caminho de conseguir uma boa produção textual no ensino médio. Claro que o bom ensino das teorias gramaticais, das formas de leitura e das técnicas de redação sozinhas não modelam um “autor excelente”. Ainda assim, são essenciais para que o aluno consiga a base necessária para produzir com autoria e com propriedade textos louváveis.
Por outro lado, alguns alunos são bem instruídos e, quando chegam ao ensino médio, não possuem a base conteudística exigida por alguns temas propostos para a redação. Isso tem gerado redações gramaticalmente bem construídas, estruturalmente bem forjadas e, acreditem!, com pouca abordagem do tema sugerido. Essa é uma falha grave que deve ser construída logo nos primeiros meses do 1º ano do Ensino Médio.
Como, então melhorar a produção textual nos três últimos anos que antecedem a entrada do aluno na universidade? Simples. Primeiramente, é preciso que o aluno esteja atento aos clássicos literários nacionais e a alguns universais. Clássicos não são Best-sellers. Muitos livros bem vendidos pouco ajudarão em temas relevantes das principais universidades brasileiras. O ideal é que o aluno selecione o que irá ler e faça um pequeno projeto de textos afins, o que facilitará a correlação futura que ele poderá estabelecer entre os textos (a chamada intertextualidade). Certamente, muitos se perguntarão sobre quais livros devem ler. Essencialmente, não podem faltar alguns dos nossos grandes autores (Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, José de Alencar, Clarice Lispector, Marina Colasanti, Graciliano Ramos...). Isso não é uma lista cabal e sim uma lista sugestiva ao aluno.
Filmes também ajudam. Assistir a muitos filmes amplia a área de discussão temática dos alunos. Documentários, filmes mais antigos, lançamentos, releituras de filmes já produzidos... Tudo isso ajudará aqueles que querem de fato se tornarem bons redatores e se prepararem bem para os vestibulares e concursos.
As músicas têm o seu papel de relevância também no contexto de formação do bom redator. Ouvir artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, entre outros, ajuda muito na hora da transmissão de conhecimento por parte de quem escreve o texto. Isso ajudará o leitor a perceber a capacidade de correlação que o emissor possui.
Assim, pensando em tudo isso, o emissor conseguirá as habilidades necessárias para construir a “redação nota 10”, tão almejada por todos. Para isso, não há receita e sim um percurso de leitura que o aluno deve trilhar .

15.1.12

Convivência


A convivência:
trivial metamorfoseado
da outrora beleza extremada.
Melodia fúnebre,
latentes, lastimosos lamentos.
O inverno aparece
e traz os badalos tristes,
o transbordar, o barulho do choro...
Lastimosos lamentos latentes.
Tontas tentativas, o tropeço!
Cada queda, cara na pedra.
O poeta percebe:
a certeza dilacerada.
Novamente, a sina:
neve quente,
no endurecido coração mole.

Pesadelo depois do almoço

O amor quando é forte
faz bater o coração
e mesmo estando sem sorte,
sentindo-me perto da morte,
não me deixo cair ao chão.

A mente pensativa
assusta-se, amedrontada.
E numa ação gradativa
e numa manobra ativa
vou atrás da minha amada.

Ao chegar, ela me olha...
Fico sem graça, falo tanto
que meu peito até se molha
e uma lágrima rola
e me vejo logo em pranto.

Rosinha, envergonhada,
vem minha lágrima conter
e pra mim, toda endeusada,
ela, minha querida namorada,
parece nada entender.

Desabafo! A cabeça a doer
faz de mim um flagelado
e num pulo, sem compreender,
digo a Rosinha, sem querer,
que dela não sou mais namorado.

Ela enlouquece, desmaia,
urra, geme, se aborrece
e sem que uma lágrima caia
ela diz ser da gandaia
como se tudo aquilo ela quisesse.

Não entendo nada, perco a razão
e Rosinha insiste, me xingando
dizendo-me horrores, um monte de palavrões
que não me amava de coração
e que já estava quase me largando.

Um namorado ela arrumara
lá pras bandas de Natal.
E desde então para lá rumara
e que até se casara
quando eu trabalhava em Palmital.

Num repente, um homem barbudo
aparece no lugar.
Ele grande, parrudo,
diz já saber de tudo
e que iria me matar.

Saca o revólver,
dá-me um tiro.
Eu finjo não me mover
e sem ele perceber,
do bolso um canivete tiro.

Enfio-lhe o objeto na garganta
e ele desfalece, espumando.
A Rosinha se amedronta...
Digo-lhe impropérios, deixo-a tonta
e dali me vou andando...

O corpo


Essa apatia,
esse corpo vulnerável:
a vida gasta em futilidades.

Para que enrijecê-los?
Flácidos logo estarão
ao chegar o pôr-do-sol.

A adiposidade generalizada
oculta a bela forma,
dos que um dia "foram"
(e não "eram"!)
egocêntricos seres.

O corpo, no anonimato,
vira arma psicológica,
vira ausência,
vira melancolia,
volve ao nada!

Ressalvas

Mudos gritos,
alma flagelada:
o sofrimento em coletivos.
A introspecção:
certeza do ser ímpar.
Amor incógnito,
vida flagelada:
como ser dois
sendo um no âmago?
Perfídia vã...
Intentei alianças:
Minhas agruras são!

20/01/2011

A folha seca roda, roda, rodopia,
contorciona-se ao vento,
dobra e desdobra
ao acaso...

Numa água, ela cai
e perde a autonomia de outrora.

A foz é o súbito destino,
destino de quem intentou
rompes as amarras do caminho.

19/01/2011

Angústia, vieste de onde?
Onde encontraste forças
para tanto assolar?
Onde tua abstração
encontrou a concretude?
Sem respostas, a personificação
parece-me intransponível.

Constatações


"Beleza é fundamental",
já disse o poeta.
Engana-se: a beleza é acidental!
A mais bela das moças
assim o é enquanto não há posse.
Muitas até chegarão ao casamento,
mas, ainda que "belas",
serão trocadas por outra(s)
ainda mais belas.
A relatividade da beleza de hoje
é o tempo até uma no amanhã.
A tênue certeza, então,
dúvida concreta forma:
se há amor na beleza,
na feiúra há o desamor?

22/09/2009

O poeta, mal

Na cela, o poeta.
Marceneiro linguístico,
desempregado.
Cria, copia,
inova, renova...
O artista só.
Só como a saudade,
sozinho como a solidão.
Olha a folha: branca,
alva como a inspiração
(que lhe falta agora!).
Os dedos desliza sobre o papel,
sente-os marcados,
vincados talvez.
Olha no verso,
há sombras de letras.
Mas como?, logo pensa.
Nada escrevera.
Mas há letras!
Letras de um pensar mediúnico,
de uma vocação insana.
E eis a razão do poeta
pensar não ter manchado
a face da frente da folha:
lembranças poeticidas.

Pai e Mãe

K'ien

A vida atormenta
e fere, e estraçalha
o ser poeta.



K'uen

A morte... ferida aberta n'alma.
O sonho... mal essencial à poesia.
A perda... anseio ímpar.


19/07/2010