30.12.11

Desfecho

Meneios de vida...
Paz em pequenos pingos...
dor no não-ter
na certeza do não-ser:
(pre)conceitos, nada concreto!
Fim da linha para quem
nunca soube andar nos trilhos.

17/08/2011

Corpo pesado

A densa massa
amassa a forma real.
Há um ser por trás
de toda aquela banha.
Alguém de opinião,
com um ego suprimido
e com a vontade recalcada.
Na adiposidade da silhueta,
sudoríparas se apressam.
O corpo, molhado, rechaçado,
não é dela, não é teu,
não é meu.
A densa massa, fermentada,
sintetiza o anormal,
aquele que não se fez
apenas mais um estereótipo.

01/09/2011

O pé de milho

Naquela curva, o milho,
o pé de milho nasceu.
Nasceu como tantos,
cresceu intentando o eterno.
O branco, o amarelo, o grão de duro,
duro e avermelhado.
Espigas se foram.
Restou aquele inútil pé,
aquele ser vegetal sem função.
O verde amarelou-se,
acobreou-se...
Foi-se a densidade.
Naquela curva, o milho,
o pé de milho percebeu:
dar frutos não conduz
à certeza do eterno.

Não-cor

Rosa claro...
Pontos pretos...
O fígado oscila
entre o fim e o pré-fim.
Glicogênios? Não há.
Células hepáticas? Morreram
(evadiram-se do ser).
Sem metabolismo,
o corpo é só memória.

01/09/2011

A PENA

A pena plaina perene...
Na suavidade de seus passivos movimentos,
ela é conduzida para cá,
para lá, para aqui,
para acolá e ali.
Sua rota sem rumo
experimenta a liberdade.
Tensão...
Gota cai ali, cai acolá,
cai ali, cai acolá
e aqui.
Pequenos pingos:
pena pesada.
O chão e o esquecimento
e a letargia...

FALSA VISÃO

O corpo é traído
pela lucidez dos olhos.
Não se veem as rugas,
a pele seca, a senilidade.
Os olhos julgam pela sensação,
pelo ontem no hoje.

25.12.11

Momento enigmático

Do papel da bala, ainda me lembro bem.

Do beijo dado (não roubado),
da sensação de ineditismo,
do aroma de teu perfume,
da falsa sensação de calma,
ainda me lembro bem.

A pouca luz, o ermo lugar,
o mundo girando em torno do nós,
as poucas palavras pronunciadas,
a percepção de que o impossível
virara possível a nós:
disso ainda me lembro bem.

Lembro-me bem sim de tudo
que nos tomou naquela noite.
Noite eternizada nos arautos do pensar,
noite encarnada de acontecimentos reais,
noite realmente inesquecível.
Inesquecível pelo afeto do momento,
pela consubstanciação do que antes
era apenas um mero sonho ou vontade.
Noite para jamais ser deixada para trás.