11.1.12

Adaptação da estória ouvida

Minha mãe havia me presenteado com uma Bíblia Ilustrada. Nem bem lia direito e já era iniciada nos ritos cristãos de crenças sobre o mundo e o Homem. Não entendia a forma como aquele Deus, O Criador, dizimava as nossas perspectivas de liberdade.
Bom, mas vamos lá. A história inicial era sobre a criação do mundo. Meu Deus! Quanto assombro tive naquele dia. Mamãe ia falando e minha imaginação, estilo “Mundo de Bob”, levava-me a conjecturar como Adão e Eva foram punidos, após conhecerem o pecado, perderem a inocência.
As imagens da Bíblia, essas sim me impressionavam!Parecia que algo era incoerente no discurso que mamãe me ajudava a ler. O pobre Adão, com apenas uma folhinha cobrindo o que até hoje nem ouso mencionar; a Eva com aquele ar de “não entendi nada” e uma enorme cobra, bem maior do que as que eu conhecia até então (ela era a verdadeira culpada pela perda da inocência dos dois; “ela era o próprio diabo personificado”, dizia minha mãe)... E Deus, o Todo Poderoso, com raios e trovões amaldiçoando o Homem para sempre. Tive medo. Tive muito medo! Como o próprio Deus haveria de expulsar suas criaturas do Paraíso? Vai entender, né? Perguntar isso para minha mãe, eu não ousava não! Seria tratada como herege ou desrespeitosa com relação aos ditames cristãos...
Anos depois, já era eu adulta... Após uma conversa com uma amiga, daquelas fanáticas evangélicas, disse que duvidava de tudo que a Bíblia dizia. Então, ela despejou uma infinidade de argumentos bíblicos (todos por mim já conhecidos)que me “incriminavam”. Estaria eu duvidando de tudo que Deus criara? Estaria eu destituída do Paraíso? Tive medo! Não consegui dormir! Já pensou se o Deus viesse falar comigo naquela noite e me repreender...Já imaginou se aquela enorme cobra (Que cobra!) me viesse também conduzir ao inferno... Tive medo! Tive muito medo! Preferi não dormir...
No outro dia, à hora do almoço, entre amigos confessei o meu temor. Claro que muitos riram de mim! Porém, contei-lhes o que havia acontecido.
Mas o pior de tudo era imaginar como havia uma dualidade em mim: via um Deus criador do mundo e um Deus terrivelmente malvado....

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